sábado, 2 de janeiro de 2010

Meu amor e eu no fim de tudo


E Viveram felizes para sempre. Essa não é uma boa forma de começar uma estória e muito menos uma forma de terminá-la. Primeiro, felicidade é algo difícil e complicado de se ter; segundo, sempre é uma palavra não real, uma Utopia inventada para crer-mos que algo realmente dure . Teremos menos prejuízos se acreditarmos que tudo é limitado, até o amor, principalmente ele. Mas por quê? Não sei. O amor me consome fazendo-me desejar morrer.
Minha vontade é de correr, correr e depois andar continuamente. Mas antes que meus pulmões possam explodir de tanto correr eu precisaria ir para a parte mais alta da montanha mais alta, e ao chegar o crepúsculo, a hora que as luz se mistura às trevas eu finalmente fecharia os olhos e num átimo quebraria a lei de Deus e me veria voando como uma borboleta. Por segundos, minutos ou até mais, voaria, voaria livre, mas uma liberdade limitada que me daria o prazer de ser livre ao menos uns minutos. A liberdade que sempre sonhei. Sentiria o ar tocar meu rosto como veludo.
Ao chegar a meu destino, veria que tudo estava como minha vontade e que eu quebrara a lei de Deus. Haveria apenas a tristeza do silêncio em minha volta, se é que eu ainda podia ver, ouvir ou sentir algo. Meus sentidos talvez estivessem paralisados junto com meu coração. Ninguém estaria ali para chorar por mim. Sem pranto, sem ilusão e sem gratidão. Tudo como eu queria.
Isso tudo é minha vontade, porém acho que posso me redimir, antes que o desejo letal de morte possa me conduzir ao pior. Será que tenho saída? Será que não irei descumprir a lei de Deus? E será que serei feliz como fui um dia? Não sei, não sei e não sei.
Antes da “enorme tristeza” ter me corroído a ponto de me transformar em um monstro, eu era feliz. No lugar das trevas de meu coração existiam flores, cores, vida.
Foram cinco anos de... De amor, essa palavra ainda parece pesar dez quilos quando pronuncio, ainda dói muito. Eu realmente vivi intensamente. A pessoa que eu mais amava vivia comigo, era tudo colorido. Era tudo maravilhoso.
Sempre andávamos juntos, não brigávamos, nos amávamos. Era difícil de acreditar, mas eu sorria. No lugar de minha máscara melancólica, desiludida e sem cor existiam lábios que sorriam. Existia uma face feliz e verdadeira.
Porém é como já foi dito: “Estas alegrias violentas têm fins violentos
Falecendo no triunfo, como fogo e pólvora
Que num beijo se consomem.”
(Romeu e Julieta, Ato II, Cena I)
Tempos difíceis é o nosso em que um “feliz pra sempre” nunca existiu. Morremos sem desfrutar de um.
Mas o que importa é a metamorfose que podemos ter. Podemos escolher viver infeliz pra sempre lembrando de uma perda ou esquecer, ou pelo menos tentar não lembrar do ocorrido e de alguma forma não cometer suicídio com nossa alma e coração enchendo-os de melancolia e trevas. É como a borboleta que antes de ser borboleta sofre uma metamorfose e tudo que era tristeza some e com uma grande par de asas tudo se transforma em liberdade, alegria e sem dizer que algo tão medonho vira algo tão lindo e sedutor. De lagarta para borboleta, de tristeza para a tão sonhada felicidade.
Mas será que merecemos algo tão grandioso? Realmente não. Pois somos humanos patéticos e irracionais que vivem de uma forma medíocre tentando dar golpes em quem nos rodeia e sem ajudar quem necessita de nós.
No final a culpa de não sermos felizes não é de ninguém, nem de Deus, que na maioria das vezes temos a audácia de culpar, é sim nossa. Que acabamos com nós mesmos por puro egoísmo.
Mas o que isso tem a ver com o que ocorreu comigo? Tudo, absolutamente tudo. Sou egoísta por fazer as pessoas em minha volta ficarem tristes com minha idiotice, eu praticamente não estou pensando em ninguém, só em minha felicidade que foi soprada por um vento que a levou para um lugar que talvez eu nunca vá alcançar, ou ao menos vislumbrar. Minha vida está fora de cogitação. Dia a pós dias tento arrancar um fiapo que seja de alegria que eu sei que está trancada bem funda no meu coração agora sombrio. Sei que estar, em algum lugar tem que estar. Um amor não pode simplesmente me destruir.
Ás vezes vivemos um sofrimento infernal tentando encaixar no peito o pedaço que a pessoa que amávamos levou e por pura burrice continuamos sofrendo por não termos coragem de dizer não ao sofrimento. Sei que é difícil, mas é só tentarmos preencher o vazio sufocante com algo, não podemos apenas dizer não a vida e enfiar uma faca em nossos sentimentos trancafiando-o em algum lugar distante, onde nunca possamos alcançar.
Mas agora sinto que a felicidade está próxima. Está sim, eu sei disso. “O fim pode não ser “feliz para sempre”, mas pode ser: tentando ser feliz para sempre”. Claro que pode. A felicidade é imprevisível, ela acaba rápido, mas podemos esticá-la, podemos fazer durar mais.
Já sei, hoje irei menosprezar toda e qualquer tristeza, finalmente tentarei ser feliz.
- Stefhanie. – disse minha mãe, entrando em meu quarto.
- Sim? – respondi.
- Vamos sair hoje?
- Claro mãe – disse, finalmente tratando-a como merecia.
Ela me olhou indiferente, sem entender minha felicidade. Pois eu estava sempre me comportando como um monstro, depois de tudo que aconteceu. Eu estava infeliz sim, mas agora tentava me redimir. Finalmente!
- O que foi mãe?
- você nunca aceita sair, fica trancafiada aqui, sempre.
- E por que me chamou então? – perguntei indiferente.
- Na verdade eu queria tentar, vê se você muda.
- Acho que estou conseguindo.
- Ótimo! – disse ela entusiasmada.
Depois de me arrumar e escrever tudo isso em meu diário, saímos.

Parte II

Irei continuar a história como Stefhanie continuaria. Depois explicarei tudo. Sou um estranho que Stefhanie conheceu. Usarei a primeira pessoa como sendo Stefhanie. Sei que será tudo meio estranho, pois será como se ela estivesse contado o que viveu, mas essa é uma forma diferente e interessante que achei para diferenciar as coisas.
Saímos então para uma praça onde estava acontecendo a festividade de algum santo. Tinha gente e comida pra todo lado. No meio dessa confusão de pessoas encontrei algo que me fez tremer até que de tão rápido que estava meu coração, achei que pararia. A pessoa que eu mais amava, bem ali, na minha frente. Com sua... Não sei dizer.
O transbordar de lágrimas em meus olhos me fez sair rapidamente de perto de minha mãe antes que um súbito desespero me fizesse morrer de chorar em seus braços, e quase me conduzi a eles.
Saí num átimo dalí e fui me afogar em desespero. Já era difícil pensar nele, no ocorrido, imagine olhá-lo e a partir daí passar o filme de tudo que aconteceu comigo quando eu tentava desesperadamente esquecer. Meus pensamentos estavam desgovernados.
Aquela minha vontade martelou em meu peito, naquele vazio, fazendo-me desejar cometer um ato inescrupuloso e letal. Mas antes um estranho disse:
- Oi, não faça o que quer fazer – disse-me angustiado.
- O quê?
- Eu vi você chorar, aliás, ainda está chorando. Não deixe sua vontade consumir sua vida. Não chore.
Eu não fazia idéia de como essa pessoa sabia, talvez estivesse estampado em meu rosto. Ele me perguntou o que estava acontecendo e por impulso, não sei como, contei tudo ao estranho, até minha ida a praça. Tudo. Menos a parte de eu querer me suicidar. É como se ele estivesse feito uma lavagem cerebral para que eu contasse tudo ou um feitiço que tira toda e qualquer verdade de alguém. E isso me fez ficar ainda pior. Despedi-me dele e em seguida dirigi-me para um prédio fingindo visitar alguém, ele era o mais alto da cidade, ele me lembrava a montanha. Nada estava como eu queria. Subi em seu andar mais alto, porém não tinha crepúsculo nem aurora, era noite. Mas mesmo assim ao chegar lá fechei os olhos e quando iria abrir os braços precisei por a mão no peito para afugentar a fobia e a dor que eu sentia por ter visto ele. Eu queria tampar o buraco que corroia meu peito, mas era impossível. E quando eu finalmente estava pronta para a metamorfose e me transformar em borboleta para voar livre um mísero momento, algo me abraçou por trás. Eu paralisei e acho que naquele momento meus órgãos pararam de funcionar. Virei-me para ver o que era ou quem era, pois era familiar, tinha o mesmo toque suave de alguém, o mesmo corpo que me dava proteção e quando ele falou, sua voz era suave como seu toque.
Ele dizia:
- Não faça isso. – Sua voz era calma e sedutora. Olhei bem pra ele, pois estava escuro e logo percebi que era meu amor. O fascínio estava completo. O susto foi completo e a alma se desviara do mundo para um lugar desconhecido onde só tinham rosas, amor e suicídio.

Parte III


Bom, sou o desconhecido cujo ombro a pobre menina chorou no dia de sua vontade finalmente ser realizada hostilmente, porém sem seu conceito, pois ela não mais queria morrer. Contarei o resto. Exatamente tudo o que vi. Continuarei escrevendo como Stefhanie escreveria, mas agora serei como sendo eu mesmo.
Quando ela despediu-se e se foi eu segui-lhe, pois estava preocupado, vi para onde se condizia e passou pela minha cabeça a banalidade que pensava em cometer. Vi tudo. Eu estava logo atrás dela e do rapaz que foi ao seu encontro, o mesmo rapaz o qual ela me falara. Com certeza foi salvá-la.
Depois de abraçá-la intensamente num fervor fumegante e ao mesmo tempo suave ela virou-se para deslumbrar seu rosto e assim que percebera quem era o impacto do susto foi tão grave que seus pés inclinaram-se para a beira do abismo e sem conseguir se equilibrar caiu junto de seu amor, pois ele abraçava-lhe e não pôde impedir o trágico final dos dois. A vontade de Stefhanie foi cometida involuntariamente, pois apesar de querer morrer ao lado de seu amor, não precisaria ser agora, porque ela estava finalmente e novamente com ele, em seus braços protetores. Infelizmente o destino foi cruel com os dois.
Ele iria tentar salvá-la, pois viu sua reação ao vê-lo com sua irmã, que com certeza ela pensara coisa diferente, porque nunca pôde ver a irmã dele, ela morava longe, só veio a passeio. E segui-lhe, pensando no que Stefhanie poderia ter cometido e cometeu.
Eu não pude salvá-los, porque estava longe e não consegui chegar a tempo, eu só estava observando, nunca pensei que algo tão trágico estava por vir.
Em seguida entrei em choque e desci para ver-lhes. A mãe de Stefhanie estava gritando tanto e tão desesperada que achei que sua voz fosse sumi e seus pulmões deixar de funcionar com o esforço que estavam fazendo. Eu segurei sua mão, chamei uma ambulância. As pessoas não deixavam ar para a pobre mulher respirar, estava tudo tumultuado. Levei-a para casa, ela assentiu que eu levasse e me indicou onde era sua casa. Eu sei que ela não me conhecia, mas para minha felicidade aceitou minha ajuda.
- Por que ela fez isso? – perguntou a mãe com a voz trêmula.
- Por que ela era uma adolescente imatura que não aprendeu lidar com os desafios da vida, principalmente o AMOR. – Logo que disse isso, a mãe mergulhou num pranto que parecia não ter fim.
Horas depois ela me levou para o quarto de Stefhanie. Observei tudo numa grande tristeza e logo em seguida despedi-me de sua mãe. Ela pediu que eu deixasse o telefone para mantermos contato. Deixei e fui.
No dia seguinte fui ao enterro de Stefhanie e encontrei sua mãe novamente. Seu rosto era sem cor, parecia que o sangue não mais corria em suas veias. Cumprimentei-a e ela me disse para ir a sua casa tomar um café, pois não queria ficar sozinha e ainda estava chorando.
Chegando lá resolvi entrar novamente no quarto de Stefhanie e olhando de longe observei algo branco com listras rosa na cômoda e ao me aproximar percebi logo que era um diário de uma pobre Stefhanie. E esfolheando cada página vi que ali continha todo seu sofrimento por amor e foi assim que descobrir qual era sua vontade, a vontade que foi cumprida involuntariamente. Ela passara seu sofrimento todo para o papel, como se ela pudesse compartilhar seu sofrimento com ele. Ela havia escrito até a parte que sua mãe chamava-lhe para sair.
O final é a infeliz morte dos dois e eu tirei tudo do diário e passei para cá, para poder compartilhar tudo que uma garota quis fazer por amor e acabou fazendo sem que quisesse. Algumas partes como sendo Stefhanie para ficar mais estranho e interessante, pois acho que aprendi escrever com suas palavras, apenas lendo um pequeno diário. O título foi dado por mim, pois Stefhanie não havia dado a história um título.
Essa é uma tragédia que nos mostra uma verdade: No final, muitas vezes por culpa nossa, o fim não é exatamente o que queríamos.


Autor (a): Marina Ferreira Da Silva.

2 comentários:

  1. Marina, como sempre você é expressiva.
    É como se pudesse entrar no seu texto, você escreve do forma forte e significativa.
    Já estou ansioso pro próximo (e próximo, e próximo).
    Continue assim, com seus finais surpreendentes e com suas histórias maravilhosas.
    Obrigado, pois enquanto te leio, simplesmente esqueço tudo.
    Thiago Almeida.

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  2. Hey pequena! Lindo texto. Que contato interior e inexplicável, suas raizes são as melhores! Que proporção de encanto que oferece ao leitor. Manda muito bem!
    Fabricio.

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